A um pedaço de papel
Frio, áspero e que nada, por si, transmite,
Eu te proponho.
Deito cada letra que, sem presunção, te desenha
Enquanto estás, ainda, ausente de significado e lógica.
Desenterro minhas memórias, feitas de dores e alegrias,
Para gerar, qual artesão, da alma exposta, uma cria.
Uma vez que tua escrita traz essência
E alguma coisa, saborosa ou acre-doce, comunica,
Sorrio ao ver-te expressão, ver-te louvor, ver-te poesia.
quarta-feira, 29 de outubro de 2008
sexta-feira, 24 de outubro de 2008
Sustento
A respiração é teu sustento.
Alimento invisível, oferenda imperceptível
Que, gentilmente, o mundo a ti oferece.
É aveludada quando
Teu coração, satisfeito, a acolhe
E insuficiente quando, choroso, te calas.
É bruto desabafo ou doce sopro,
Doação, inconsciente, que se faz à vida.
É infinita quando a soltas sem custo
E curta quando defines o preço.
É, de tuas expressões, a mais reveladora.
É tua primeira e última companhia,
Pois, desde o primeiro dia,
Dedica-se a fazer, obsessiva,
Da morte, a contagem regressiva.
Alimento invisível, oferenda imperceptível
Que, gentilmente, o mundo a ti oferece.
É aveludada quando
Teu coração, satisfeito, a acolhe
E insuficiente quando, choroso, te calas.
É bruto desabafo ou doce sopro,
Doação, inconsciente, que se faz à vida.
É infinita quando a soltas sem custo
E curta quando defines o preço.
É, de tuas expressões, a mais reveladora.
É tua primeira e última companhia,
Pois, desde o primeiro dia,
Dedica-se a fazer, obsessiva,
Da morte, a contagem regressiva.
quinta-feira, 14 de agosto de 2008
Lógica
Um segundo ou dois pode ser a vida de um olhar,
Do desfrutar de um toque, de um sabor.
Um mês ou dois pode ser a vida de uma paixão,
De um desejo, de uma atração.
E não espere que da soma de muitos uns e tantos dois
Resulte à vida igual desfrute ao desfrute eterno de um amor.
Do desfrutar de um toque, de um sabor.
Um mês ou dois pode ser a vida de uma paixão,
De um desejo, de uma atração.
E não espere que da soma de muitos uns e tantos dois
Resulte à vida igual desfrute ao desfrute eterno de um amor.
sexta-feira, 2 de maio de 2008
Seis dias
Conheci a mulher que eu amo no mês de dezembro. Casei com a mulher que eu amo em maio do próximo ano. Em julho ficamos grávidos. Pareceu rápido? De forma nenhuma, para mim demorou :). Mas alguns acharam rápido demais. Aí vai o segredo, essa poesia foi minha resposta para algumas pessoas que vieram para mim contando o tempo. Como se eu não soubesse contar, hehe, saber eu sei, mas não preciso ;).
Quem conta o tempo há muito tempo conta o tempo.
E pouco é muito a quem a contar não perde tempo.
Deus sequer imaginava que toda a sua cria havia sido feita em apenas seis divinos dias.
Quem estava a contar era o Diabo - olhando de fora - e tenho certeza que,
De tão incrédulo, ele fervia enquanto, realizado, Deus descansava no sétimo dia.
A verdadeira criação não é contida pela matemática do tempo,
Pois a verdade é o que há de mais puro,
E tudo o que é puro é divino,
E tudo o que é divino pára o tempo.
Pois até o tempo reconhece o sagrado e se prostra embriagado em sua presença.
E é por isso que eu te amo tanto,
Mesmo que alguém, a contar nos dedos, pense que eu amo há pouco tempo.
Em relação
Onde tantos sustentaram que o amor é uma miragem,
Eu manifesto o quão ilusória é a solidão.
Onde tantos expuseram que o caminho é solitário,
Eu exponho que a um ser que é só não existem passos.
Onde a realização de um homem foi dita com sendo sua,
Eu digo que sua realização a ele não pertence.
Solidão é miragem na existência.
É, de todas as crenças, a mais frágil,
Pois não há pensamento que para si se crie,
Não há palavra que para si seja dita,
Não há gesto que para si seja feito.
Onde tantos se recolheram em sua busca isolada,
Eu grito o nome do encontro.
Onde tantos se detiveram jurando compromisso à sua cela,
Eu juro total entrega.
Onde tantos dormiram embalados por suas próprias palavras,
Eu acordo para ouvir o mundo.
Solidão é miragem na existência,
É crença enganosa fruto de uma dor não-digerida,
É conceito que não pertence a este mundo.
Solidão não é opção disponível aos homens.
A dor tem fonte única.
É o resíduo do esforço despendido para provar a si mesmo o impossível,
A existência do indivíduo por si só.
A dor é fruto de uma imensa miragem.
Eu manifesto o quão ilusória é a solidão.
Onde tantos expuseram que o caminho é solitário,
Eu exponho que a um ser que é só não existem passos.
Onde a realização de um homem foi dita com sendo sua,
Eu digo que sua realização a ele não pertence.
Solidão é miragem na existência.
É, de todas as crenças, a mais frágil,
Pois não há pensamento que para si se crie,
Não há palavra que para si seja dita,
Não há gesto que para si seja feito.
Onde tantos se recolheram em sua busca isolada,
Eu grito o nome do encontro.
Onde tantos se detiveram jurando compromisso à sua cela,
Eu juro total entrega.
Onde tantos dormiram embalados por suas próprias palavras,
Eu acordo para ouvir o mundo.
Solidão é miragem na existência,
É crença enganosa fruto de uma dor não-digerida,
É conceito que não pertence a este mundo.
Solidão não é opção disponível aos homens.
A dor tem fonte única.
É o resíduo do esforço despendido para provar a si mesmo o impossível,
A existência do indivíduo por si só.
A dor é fruto de uma imensa miragem.
segunda-feira, 28 de janeiro de 2008
Até a felicidade tem sua dose de tristeza
Uma dose, dê-me uma dose.
A felicidade pede sua dose de tristeza,
Pois é sentada na tristeza que ela se mostra.
É como tinta amarela no chão preto.
Sem seu assento, felicidade é como uma pipa solta ao vento
Sem o pulso atento do guri brincalhão.
A tristeza é o fio-terra da felicidade.
Sem seu toque, os sorrisos se desmancham ao tocar o chão.
Uma dose, dê-me uma dose de tristeza.
Dê-me uma dose
Para que eu desfrute minha felicidade em boa companhia.
Dê-me uma dose
Para que eu compartilhe minha bebida na companhia amiga dos infelizes.
Dê-me uma dose
Para que eu não tenha medo de chorar de felicidade triste.
Dê-me uma dose
Para que eu jamais esqueça que toda felicidade individual traz
Uma faceta excludente.
A felicidade pede sua dose de tristeza,
Pois é sentada na tristeza que ela se mostra.
É como tinta amarela no chão preto.
Sem seu assento, felicidade é como uma pipa solta ao vento
Sem o pulso atento do guri brincalhão.
A tristeza é o fio-terra da felicidade.
Sem seu toque, os sorrisos se desmancham ao tocar o chão.
Uma dose, dê-me uma dose de tristeza.
Dê-me uma dose
Para que eu desfrute minha felicidade em boa companhia.
Dê-me uma dose
Para que eu compartilhe minha bebida na companhia amiga dos infelizes.
Dê-me uma dose
Para que eu não tenha medo de chorar de felicidade triste.
Dê-me uma dose
Para que eu jamais esqueça que toda felicidade individual traz
Uma faceta excludente.
Pescador
Eu não busco o que ele busca no mar.
Ele joga a rede, eu jogo meu olhar.
Eu não busco o que ele busca no mar.
Ele tem um só pensamento e o olhar fixo,
Eu abro os olhos para ver o que quer que eu veja.
Eu não busco o que ele busca no mar.
Ele não pode voltar de mãos vazias,
Eu venho para, em oferenda, esvaziar as minhas.
Eu não busco o que ele busca no mar.
Ele é todo expectativa, ele tem o que esperar,
Eu não ouso imaginar o que para mim virá.
Eu não busco o que ele busca no mar.
Ele facilmente acaba por se frustrar,
Eu estou cá comigo mesmo, não tenho a quem reclamar.
Eu não busco o que ele busca no mar.
Ele vem para matar a fome de toda a sua família,
Eu só posso matar a minha.
Eu não busco o que ele busca no mar.
Ele, mesmo enchendo o barco da melhor pesca,
Em breve precisará retornar,
Eu, tendo encontrado o que procuro,
Volto para casa de meus amigos, desta vez para ficar.
Ele joga a rede, eu jogo meu olhar.
Eu não busco o que ele busca no mar.
Ele tem um só pensamento e o olhar fixo,
Eu abro os olhos para ver o que quer que eu veja.
Eu não busco o que ele busca no mar.
Ele não pode voltar de mãos vazias,
Eu venho para, em oferenda, esvaziar as minhas.
Eu não busco o que ele busca no mar.
Ele é todo expectativa, ele tem o que esperar,
Eu não ouso imaginar o que para mim virá.
Eu não busco o que ele busca no mar.
Ele facilmente acaba por se frustrar,
Eu estou cá comigo mesmo, não tenho a quem reclamar.
Eu não busco o que ele busca no mar.
Ele vem para matar a fome de toda a sua família,
Eu só posso matar a minha.
Eu não busco o que ele busca no mar.
Ele, mesmo enchendo o barco da melhor pesca,
Em breve precisará retornar,
Eu, tendo encontrado o que procuro,
Volto para casa de meus amigos, desta vez para ficar.
terça-feira, 8 de janeiro de 2008
Quem se atreve a desvendar outra alma
Quem é esse que se atreve a outra alma desvendar?
Que tipo de homem ou mulher seria esse
Que por tal caminho se atrevesse?
Tanto risco para tão pouco ouro que sai deste garimpo.
O que existe lá por dentro é coisa intrincada,
Sem chances de se chegar espiando como quem não quer nada.
O que existe lá por dentro é escrito numa língua a outros desconhecida,
Formulada com cada olhar e cada segundo de experiência de vida.
O que existe lá por dentro é combinado de maneira tão única e exclusiva,
Curiosamente obra de um só ente que assina criador e criatura,
Que jamais se viu sair resultado igual de tal mistura.
Essa arte tão refinada faz seu preço,
E, voltando ao que nos trouxe aqui no começo,
Desvendar outra alma é coisa que nem o diabo,
Senhor do Atrevimento, ousaria.
Pois a maior desilusão do coitado
Foi descobrir que se por esse caminho se atrevesse,
A sua própria alma ele perderia.
Que tipo de homem ou mulher seria esse
Que por tal caminho se atrevesse?
Tanto risco para tão pouco ouro que sai deste garimpo.
O que existe lá por dentro é coisa intrincada,
Sem chances de se chegar espiando como quem não quer nada.
O que existe lá por dentro é escrito numa língua a outros desconhecida,
Formulada com cada olhar e cada segundo de experiência de vida.
O que existe lá por dentro é combinado de maneira tão única e exclusiva,
Curiosamente obra de um só ente que assina criador e criatura,
Que jamais se viu sair resultado igual de tal mistura.
Essa arte tão refinada faz seu preço,
E, voltando ao que nos trouxe aqui no começo,
Desvendar outra alma é coisa que nem o diabo,
Senhor do Atrevimento, ousaria.
Pois a maior desilusão do coitado
Foi descobrir que se por esse caminho se atrevesse,
A sua própria alma ele perderia.
A Metragem Quadrada do Coração
Medição infame esta
Que calcula o quanto cabe em meu coração.
Basta aproximar a fita métrica de minha mão
Para que se estabeleça incompreensão.
A metragem quadrada deste músculo
Não comporta o mais tosco sentimento.
O espírito não se satisfaz como a carne de um molusco
Que negocia com sua concha o crescimento.
A medida cabe à vida que se faz contida, que se faz dura, se faz fria
Como que presa à lápide de mármore de uma pessoa que partiu.
Mas não se diz o mesmo da vida em alegria
Que se faz ampla, desafia e não se entrega à loucura por um fio.
Medição infame esta
Que revira e mede cada centímetro do meu coração.
Saiba que tempo e reflexão desgastaram os muros de contenção,
Não ficou sequer uma emoção impedida de sua canção.
O que restou foi apenas um coração desmedido
Avesso à análise burocrática
E sem chances de solução matemática.
Que calcula o quanto cabe em meu coração.
Basta aproximar a fita métrica de minha mão
Para que se estabeleça incompreensão.
A metragem quadrada deste músculo
Não comporta o mais tosco sentimento.
O espírito não se satisfaz como a carne de um molusco
Que negocia com sua concha o crescimento.
A medida cabe à vida que se faz contida, que se faz dura, se faz fria
Como que presa à lápide de mármore de uma pessoa que partiu.
Mas não se diz o mesmo da vida em alegria
Que se faz ampla, desafia e não se entrega à loucura por um fio.
Medição infame esta
Que revira e mede cada centímetro do meu coração.
Saiba que tempo e reflexão desgastaram os muros de contenção,
Não ficou sequer uma emoção impedida de sua canção.
O que restou foi apenas um coração desmedido
Avesso à análise burocrática
E sem chances de solução matemática.
sábado, 5 de janeiro de 2008
A PEDIDO
Por mim, por favor, não tenhas pressa.
Aceita meu convite, ele vem de uma verdade.
É uma palavra de carinho e uma advertência de cuidado,
Para que me vejas,
Para que me honres.
Não precisas te afastar, podes trazer teu andar sensível ao meu lado,
Para que eu te veja,
Para que eu te honre.
Apenas me devolvas o tempo da mesma forma que o pegaste.
Vem me mostrar quem tu és sem que o sol que recém nasceu confunda minha visão.
Vem me mostrar parte por parte a seu momento,
Teu olhar ao amanhecer, teu perfil ao pôr-do-sol
E, à noite, apenas tua voz invisível.
Vem repousar tua ansiedade em meu colo
E minhas defesas cairão na terra.
Vem sem esperar que eu não seja eu,
Vem sem pressa para que sejas tu.
Anda com teu passo sensível até mesmo
Se eu não estiver a te aguardar,
Pois se nos entregarmos a esta dança abnegada,
Sejam unidas ou afastadas,
Serão duas as pessoas a se encontrar.
Aceita meu convite, ele vem de uma verdade.
É uma palavra de carinho e uma advertência de cuidado,
Para que me vejas,
Para que me honres.
Não precisas te afastar, podes trazer teu andar sensível ao meu lado,
Para que eu te veja,
Para que eu te honre.
Apenas me devolvas o tempo da mesma forma que o pegaste.
Vem me mostrar quem tu és sem que o sol que recém nasceu confunda minha visão.
Vem me mostrar parte por parte a seu momento,
Teu olhar ao amanhecer, teu perfil ao pôr-do-sol
E, à noite, apenas tua voz invisível.
Vem repousar tua ansiedade em meu colo
E minhas defesas cairão na terra.
Vem sem esperar que eu não seja eu,
Vem sem pressa para que sejas tu.
Anda com teu passo sensível até mesmo
Se eu não estiver a te aguardar,
Pois se nos entregarmos a esta dança abnegada,
Sejam unidas ou afastadas,
Serão duas as pessoas a se encontrar.
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