Uma dose, dê-me uma dose.
A felicidade pede sua dose de tristeza,
Pois é sentada na tristeza que ela se mostra.
É como tinta amarela no chão preto.
Sem seu assento, felicidade é como uma pipa solta ao vento
Sem o pulso atento do guri brincalhão.
A tristeza é o fio-terra da felicidade.
Sem seu toque, os sorrisos se desmancham ao tocar o chão.
Uma dose, dê-me uma dose de tristeza.
Dê-me uma dose
Para que eu desfrute minha felicidade em boa companhia.
Dê-me uma dose
Para que eu compartilhe minha bebida na companhia amiga dos infelizes.
Dê-me uma dose
Para que eu não tenha medo de chorar de felicidade triste.
Dê-me uma dose
Para que eu jamais esqueça que toda felicidade individual traz
Uma faceta excludente.
segunda-feira, 28 de janeiro de 2008
Pescador
Eu não busco o que ele busca no mar.
Ele joga a rede, eu jogo meu olhar.
Eu não busco o que ele busca no mar.
Ele tem um só pensamento e o olhar fixo,
Eu abro os olhos para ver o que quer que eu veja.
Eu não busco o que ele busca no mar.
Ele não pode voltar de mãos vazias,
Eu venho para, em oferenda, esvaziar as minhas.
Eu não busco o que ele busca no mar.
Ele é todo expectativa, ele tem o que esperar,
Eu não ouso imaginar o que para mim virá.
Eu não busco o que ele busca no mar.
Ele facilmente acaba por se frustrar,
Eu estou cá comigo mesmo, não tenho a quem reclamar.
Eu não busco o que ele busca no mar.
Ele vem para matar a fome de toda a sua família,
Eu só posso matar a minha.
Eu não busco o que ele busca no mar.
Ele, mesmo enchendo o barco da melhor pesca,
Em breve precisará retornar,
Eu, tendo encontrado o que procuro,
Volto para casa de meus amigos, desta vez para ficar.
Ele joga a rede, eu jogo meu olhar.
Eu não busco o que ele busca no mar.
Ele tem um só pensamento e o olhar fixo,
Eu abro os olhos para ver o que quer que eu veja.
Eu não busco o que ele busca no mar.
Ele não pode voltar de mãos vazias,
Eu venho para, em oferenda, esvaziar as minhas.
Eu não busco o que ele busca no mar.
Ele é todo expectativa, ele tem o que esperar,
Eu não ouso imaginar o que para mim virá.
Eu não busco o que ele busca no mar.
Ele facilmente acaba por se frustrar,
Eu estou cá comigo mesmo, não tenho a quem reclamar.
Eu não busco o que ele busca no mar.
Ele vem para matar a fome de toda a sua família,
Eu só posso matar a minha.
Eu não busco o que ele busca no mar.
Ele, mesmo enchendo o barco da melhor pesca,
Em breve precisará retornar,
Eu, tendo encontrado o que procuro,
Volto para casa de meus amigos, desta vez para ficar.
terça-feira, 8 de janeiro de 2008
Quem se atreve a desvendar outra alma
Quem é esse que se atreve a outra alma desvendar?
Que tipo de homem ou mulher seria esse
Que por tal caminho se atrevesse?
Tanto risco para tão pouco ouro que sai deste garimpo.
O que existe lá por dentro é coisa intrincada,
Sem chances de se chegar espiando como quem não quer nada.
O que existe lá por dentro é escrito numa língua a outros desconhecida,
Formulada com cada olhar e cada segundo de experiência de vida.
O que existe lá por dentro é combinado de maneira tão única e exclusiva,
Curiosamente obra de um só ente que assina criador e criatura,
Que jamais se viu sair resultado igual de tal mistura.
Essa arte tão refinada faz seu preço,
E, voltando ao que nos trouxe aqui no começo,
Desvendar outra alma é coisa que nem o diabo,
Senhor do Atrevimento, ousaria.
Pois a maior desilusão do coitado
Foi descobrir que se por esse caminho se atrevesse,
A sua própria alma ele perderia.
Que tipo de homem ou mulher seria esse
Que por tal caminho se atrevesse?
Tanto risco para tão pouco ouro que sai deste garimpo.
O que existe lá por dentro é coisa intrincada,
Sem chances de se chegar espiando como quem não quer nada.
O que existe lá por dentro é escrito numa língua a outros desconhecida,
Formulada com cada olhar e cada segundo de experiência de vida.
O que existe lá por dentro é combinado de maneira tão única e exclusiva,
Curiosamente obra de um só ente que assina criador e criatura,
Que jamais se viu sair resultado igual de tal mistura.
Essa arte tão refinada faz seu preço,
E, voltando ao que nos trouxe aqui no começo,
Desvendar outra alma é coisa que nem o diabo,
Senhor do Atrevimento, ousaria.
Pois a maior desilusão do coitado
Foi descobrir que se por esse caminho se atrevesse,
A sua própria alma ele perderia.
A Metragem Quadrada do Coração
Medição infame esta
Que calcula o quanto cabe em meu coração.
Basta aproximar a fita métrica de minha mão
Para que se estabeleça incompreensão.
A metragem quadrada deste músculo
Não comporta o mais tosco sentimento.
O espírito não se satisfaz como a carne de um molusco
Que negocia com sua concha o crescimento.
A medida cabe à vida que se faz contida, que se faz dura, se faz fria
Como que presa à lápide de mármore de uma pessoa que partiu.
Mas não se diz o mesmo da vida em alegria
Que se faz ampla, desafia e não se entrega à loucura por um fio.
Medição infame esta
Que revira e mede cada centímetro do meu coração.
Saiba que tempo e reflexão desgastaram os muros de contenção,
Não ficou sequer uma emoção impedida de sua canção.
O que restou foi apenas um coração desmedido
Avesso à análise burocrática
E sem chances de solução matemática.
Que calcula o quanto cabe em meu coração.
Basta aproximar a fita métrica de minha mão
Para que se estabeleça incompreensão.
A metragem quadrada deste músculo
Não comporta o mais tosco sentimento.
O espírito não se satisfaz como a carne de um molusco
Que negocia com sua concha o crescimento.
A medida cabe à vida que se faz contida, que se faz dura, se faz fria
Como que presa à lápide de mármore de uma pessoa que partiu.
Mas não se diz o mesmo da vida em alegria
Que se faz ampla, desafia e não se entrega à loucura por um fio.
Medição infame esta
Que revira e mede cada centímetro do meu coração.
Saiba que tempo e reflexão desgastaram os muros de contenção,
Não ficou sequer uma emoção impedida de sua canção.
O que restou foi apenas um coração desmedido
Avesso à análise burocrática
E sem chances de solução matemática.
sábado, 5 de janeiro de 2008
A PEDIDO
Por mim, por favor, não tenhas pressa.
Aceita meu convite, ele vem de uma verdade.
É uma palavra de carinho e uma advertência de cuidado,
Para que me vejas,
Para que me honres.
Não precisas te afastar, podes trazer teu andar sensível ao meu lado,
Para que eu te veja,
Para que eu te honre.
Apenas me devolvas o tempo da mesma forma que o pegaste.
Vem me mostrar quem tu és sem que o sol que recém nasceu confunda minha visão.
Vem me mostrar parte por parte a seu momento,
Teu olhar ao amanhecer, teu perfil ao pôr-do-sol
E, à noite, apenas tua voz invisível.
Vem repousar tua ansiedade em meu colo
E minhas defesas cairão na terra.
Vem sem esperar que eu não seja eu,
Vem sem pressa para que sejas tu.
Anda com teu passo sensível até mesmo
Se eu não estiver a te aguardar,
Pois se nos entregarmos a esta dança abnegada,
Sejam unidas ou afastadas,
Serão duas as pessoas a se encontrar.
Aceita meu convite, ele vem de uma verdade.
É uma palavra de carinho e uma advertência de cuidado,
Para que me vejas,
Para que me honres.
Não precisas te afastar, podes trazer teu andar sensível ao meu lado,
Para que eu te veja,
Para que eu te honre.
Apenas me devolvas o tempo da mesma forma que o pegaste.
Vem me mostrar quem tu és sem que o sol que recém nasceu confunda minha visão.
Vem me mostrar parte por parte a seu momento,
Teu olhar ao amanhecer, teu perfil ao pôr-do-sol
E, à noite, apenas tua voz invisível.
Vem repousar tua ansiedade em meu colo
E minhas defesas cairão na terra.
Vem sem esperar que eu não seja eu,
Vem sem pressa para que sejas tu.
Anda com teu passo sensível até mesmo
Se eu não estiver a te aguardar,
Pois se nos entregarmos a esta dança abnegada,
Sejam unidas ou afastadas,
Serão duas as pessoas a se encontrar.
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