sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Só acredito em Deus quando estou apaixonado

A dor é coisa que é do homem,
Coisa herdada que não se esquece,
Coisa que não some.
A dor é aqui da terra,
Já a felicidade aqui não cresce.

Felicidade não é coisa humana,
Humana é a dor.

A dor anda de cabeça baixa como quem procura sua própria raiz,
Desejando arrancá-la e apagar da memória qualquer cicatriz.
A dor tem os pés descalços e anda insegura temendo cacos de vidro no chão,
A felicidade não.

A felicidade demora a chegar e é vulnerável, vem como uma brisa.
Já a maldita dor é um espinho teimoso que finca fundo e imobiliza
O desgraçado da vez que sofrendo grita e agoniza.

Felicidade vem de cima escondida em meio à chuva,
No chão ela abre suas mãos e se refresca na gota que do céu ainda cai.
Felicidade, definitivamente, não é coisa do homem.
Dura um dia ou dois, mas depois o abandona e, sem despedidas, se vai.

Felicidade só pode ser tomada emprestada,
Tem data e hora de devolução marcada.

Felicidade só chega para o homem apaixonado
que crê em algum tipo de Deus da Felicidade.
Se disser que acredita e não está apaixonado...
Desculpe, mas não pode ser verdade.

Não há como existir quem se defina como um desapaixonado crente,
Só se for um apaixonado confuso ou um desapaixonado que mente.

E, se há um Deus da Felicidade, esse Deus é, com certeza,
Uma Deusa de generosas curvas e que te dá bandeira,
Ainda mais se Deus for mesmo brasileiro, digo, brasileira.

sábado, 22 de dezembro de 2007

As festas estão chegando

Como está começando o período de festas, natal, ano novo, férias, carnaval, resolvi dar a minha contribuição postando aqui a letra de um samba que compus a pedido do meu amigo Cláudio Macedo da Vila Mapa. Aceitei o desafio de escrever um samba para a bateria formada por crianças do seu bairro (um maravilhoso projeto que ele coordena há vários anos) e aí está o resultado. Este samba é uma homenagem ao trabalho realizado por eles e será o hino do projeto. A música já está sendo trabalhada com a gurizada.
Aí vai.

SAMBA NÃO TEM IDADE

Foi assim,
Foi assim que se criou
De uma idéia, de um desejo,
Uma escola diferente
Que uniu a nossa gente.

Construída com cuidado,
Firmou o seu aprendizado
No valor de uma criança
No respeito e na esperança.

Recebeu da gurizada
Exemplar dedicação
Que mostrou até pra bamba
Que idade não faz samba.

Essa escola tem repique,
Tamborim e repinique,
Tem ganzá e agogô.

Mas de que vale um instrumento?
Só na mão da criançada
Que abusa batucada
É que ele cumpre o seu intento

E a alegria da criança, que aqui cresce e aparece,
É a grande recompensa que ninguém jamais esquece.

Quem entra junto nesta história, que transforma a realidade,
Tem em troca, na memória, essa tal felicidade.

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Sobre a paixão

És tão doce quanto breve,
Tornas o rosto leve e o amante insone.
És tão irresistível quanto curta,
Cortas a escuta e da razão roubas o alcance.
És instantânea, rasa e passageira,
Fazes-me desejá-la inteira e esquecê-la noutro instante.
És capaz de pôr o homem, em segundos, doente,
E com igual destreza, curá-lo completamente.
És fugaz e enganosa,
À tarde és Ana e, à noite, te chamas Rosa.
És fresca, atraente e tão bonita
Que revelar-te em minha escrita é a teus atributos injustiça.
És tão incerta e inconseqüente
Que jogas o passado ao mar, reviras vidas e te manténs silente.
És divina e perdulária,
És necessária e proibida.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Ilumina

Ilumina,
Ilumina estrela, ilumina vaga-lume.
O olho vai com pressa e cai no engano, mas na alma não há pressa. A alma não se inquieta.
Ilumina,
Ilumina estrela, ilumina vaga-lume.
Da atração revelam uma semelhante natureza , mas não se assemelham em constância.
Ilumina,
Ilumina estrela, ilumina vaga-lume.
Este se mostra insustentável e em breve se cansa,
Mas não aquela, que brilha insistente e fora de alcance.
Ilumina,
Ilumina vaga-lume antes da repentina morte do seu brilho.
Ilumina sem esconder suas qualidades e seus frutos aos olhos sedentos de ilusão.
Ilumina,
Ilumina estrela que perdura além da curta vida humana.
Ilumina sem esconder suas qualidades e seus frutos aos olhos sedentos de verdade.
 
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